terça-feira, 19 de janeiro de 2010


A SOLIDÃO É POP


O que para alguns parece ser tão simples, para mim realmente é complicado. Falar sobre meus sentimentos é algo que, quem sabe, apartir de agora eu passe a enxegar como “arte literária”. Ao contrário de como fazem os poetas, sentar numa mesa de bar, num banco de praça, num restaurante ou numa esquina para falar de sentimentos próprios nunca foi algo fácil para mim. Não se trata de censura pessoal ou de algum conceito cronológico daqueles em que você estabelece regras internas se perpetuando com perguntas deprimentes do tipo: Ei, você acha mesmo que ainda tem idade para essas bobagens?


Sempre lembro dos versos de uma canção do Oswaldo Montenegro que diz: Hoje eu acordei tão só, mais só do que merecia. Incrível como algumas horas parecem eternas, os relógios parecem não obedecerem o seu curso normal, mas eu sei, meu Deus como eu sei, que não estou sozinha em meu discurso solitário. A solidão também tem seus heróis. E todo herói é solitário. Ele nunca demonstra se sentir só por mais que esteja. Isso não lhe cai bem. Um solitário convicto não sem importa de ligar para um amigo em hora avançada mesmo sabendo que pode estar sendo ridículo e incoveniente."O ser humano só entende o efeito da frieza na ausência do calor de outro ser humano".


Tenho muitos receios quando falo sobre solidão. Porque sei que não falo só por mim, mas falo de tantas pessoas ao mesmo tempo. De uma forma indireta envolvo minha família, meus amigos, meus amores, meus desafetos, minhas desilusões e meu sonhos num só circulo. Falar sobre a própria solidão é assumir que todos a sua volta tem haver com isso. Significa envolver os outros em sentimentos que são só nossos. Complexo? Talvez. Beryl Markham afirmou: Pode-se viver uma vida inteira e, no fim, saber mais dos outros do que de si próprio. Bem intencionada sua teoria Markham, mas eu não creio nem de longe que isso ocorra exatamente dessa forma.

Eu sei que falar de solidão pode parecer algo tão triste, mas pode ser também algo libertador quando compatilhado. Todo e qualquer sentimento dependendo da hora em que for sentido e como for sentido, pode ser algo nocivo ou não. Não adianta querer parecer forte o tempo todo, nem bancar o triste, o pobrezinho o maníaco depressivo o tempo todo. Duas armas espiritualmente letais: a auto-suficiência e o auto-desprezo. Duas pragas, duas formas exageradas de fazer a vida não valer a pena.
A solidão não tem cor, nem cheiro e nem sexo. É o desconhecido e ao mesmo tempo o artista das massas.Greta Garbo, atriz sueca, linda, talentosa, bem sucedida, desejada, única e entre tantos adjetivos, o mais curioso: solitária. Viveu entre a segurança e o mistério da solidão. Atraía homens de todas as idades e estilos. Dos simples aos mais sofisticados. Dos gentlemans aos mais bad boys. Ficou conhecida no mundo inteiro não apenas por seu talento e beleza, mas também por uma de suas célebres frases: Eu quero ficar só.

O que explicar sobre isso? Não, não há nada que explicar. A sociedade quer respostas, a família quer, os amigos querem, os inimigos também. Algumas pessoas não entendem o porque ficar só as faz se sentirem fracas, inseguras, impotentes. Por outro lado pessoas não conseguem se relacionarem emocionalmente com outras por se sentirem fracas, inseguras e impotentes. Resumindo: As causas são diferentes, mas o efeito é o mesmo. John Powell escreveu em uma de suas poesias: Para compreender as pessoas devo tentar escutar o que elas não estão dizendo, o que elas talvez nunca venham a dizer.

Quantos poetas, cantores e compositores escreveram lindamente sobre a solidão. Quantas frases antológicas. Lulu Santos e seu pedido de ajuda: S.O.S solidão. Enquanto Lenine abusa do individualismo em: Hoje eu quero sair só. Sentimentos não tem regras para acontecer porque cada um sente de uma forma diferente. Ora, nenhuma célula se repete na multiplicação, portanto nenhum ser humano pensa e sente da mesma forma. Somos tão iguais e tão diferentes. Ou como diz o músico Humberto Gessinger, vocalista de uma das bandas mais politizadas e sensatas do Brasil: Todos iguais, mas uns mais iguais que os outros. Salve, salve. Nós também temos engenheiros pensadores.

Estamos diante das nossas verdades e mentiras. O ateu quando se sente só diz que é o vazio da vida e não existe Deus para consolá-lo. O Cristão diz que se não fosse a presença de Deus ele não suportaria a solidão do mundo. Particularmente eu creio em Deus e em suas promessas, mas ainda sim me sinto só nesse mundo estranho. Ou seria eu uma estranha nesse mundo? Bem, eu creio em Deus porque apesar das bizarrices do cotidiano eu sei que ele nada tem haver com isso. Existem culpados por toda frieza, violência e estupidez desse mundo. Somos nós. Chega a ser tão triste, porém tão lógico. A solidão nada tem haver com lugares e pessoas. Estar na rua com uma multidão ou estar sozinho. E vice versa. Solidão é você saber o que te faz feliz e saber que nesse mundo cão não é possível o ser. A solidão não é descrença é realidade. Foge a fantasia de acreditar em sonhos infantis. Como dizia Renato Russo: Quem me dera acreditar que o mundo é perfeito e todas as pessoas são felizes.

Meu mundo que também é seu pela unidade da matéria, está cheio de Lenines e Gretas. "O que eu não me acostumo é com a solidão" dizia Tim Maia. Você era tão solitário com sua platéia quanto todos nós somos com as nossas, meu caro Tim. E assim os solitários seguem unidos. Nunca estaremos sós (talvez seja nosso prêmio consolo). A solidão é assim mesmo. Solitáriamente popular. Nada tem haver com sexo ou amor. Prazer ou dor. É um partido para uns e um estado para outros. A solidão é pop.

Aninha Marques

Um comentário:

  1. Assim como Aristóteles: "Quem encontra prazer na solidão, ou é fera selvagem ou é Deus."

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